segunda-feira, 13 de março de 2023

PREÇO E VALOR

 

PREÇO E VALOR

Sandra Freire

Qual o valor do amor, se... . Talvez... . Quem sabe, contudo, porém, todavia...?

Qual o valor de uma joia sem uma embalagem glamorosa?

Qual o valor de um abraço, se não for apertado, dispensando palavras?

Qual o valor da amizade se for preciso esperar na fila comum?

Qual o valor de um olhar, se não transmitir a mensagem?

Qual o valor da felicidade, se não for divulgada?

Qual o valor da tristeza, se não estiver evidenciada?

Qual o valor das conquistas, se não se tornarem domínio público?

Qual seria o valor da vida sem a morte?

Só sei que, em relação ao valor, o preço é alto demais.


domingo, 14 de agosto de 2022

WRONG WAY

 

WRONG WAY

Caminho errado não conduz ao lugar certo.

Sandra Freire

A REDE QUE NOS PROTEGE

 Nesse mundo virtual, o que mais nos atrai é a fotogenia. Depois, vem a parte intelectual. Afinidades também são importantes, mas surgem no decorrer de o conhecimento. Com o passar de o tempo, por mais interessante que possa ser o processo de conhecimento, novas expectativas se configuram – é preciso passar do virtual ao real.

O virtual é o mundo da imaginação. O pensamento é livre. O perigo é permitir que o imaginário alcance proporções incompatíveis com o real. Será que alguém já foi sensato o suficiente para esperar menos e poder se surpreender com “mais”? Fica a dúvida.

A questão é que não dá pra ficar eternamente no virtual. Uma curtida não substitui o calor de um abraço, o prazer de uma companhia, uma pegada na mão...

Sentar na areia e pensar em alguém é bem poético. Estar com esse alguém, é mágico. Somando tudo, a carência afetiva ganha todas.

É muito bom entrar no mundo de os sonhos. Melhor ainda é estar só, sem sentir-se só. Nessa brincadeira de estar, sem efetivamente estar, o tempo vai passando agradavelmente à espera do pé que caiba no sapato de cristal.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

 

REDES SOCIAIS OU CILADA

Sandra Freire

“É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade”

                                                                                                        Virgínia Woolf

Conhecer alguém na rede. Começar uma amizade. Cair para o lado sentimental, sem nenhuma dose de realidade, só fotos, que vão direto ao imaginário. E, no imaginário é montada a alegoria – tudo que se empresta àquela foto nos agrada. Mensagens trocadas; músicas e vídeos compartilhados. A aura de romantismo é envolvente; aquele argumento passa a compartilhar nossas vidas e acaba soando como um compromisso assumido.

Nada mais incoerente.

Durante o processo não nos damos conta da cilada que representa essa mise en scene.

Afeiçoar-se a alguém impossibilita outras afeições. Emprestar qualidades a esse alguém faz com que se estabeleçam comparações com outro alguém. É o imaginário contra o real. Luta desigual.

A ubiquidade é negada aos humanos, portanto... Se estamos cá fisicamente e lá, sentimentalmente, onde nos sentimos afinal?

 Ah, Virgínia Wolf “A vida é como um sonho é o despertar que nos mata”.

 Mas queremos despertar.

A ÚLTIMA PEÇA

 

A ÚLTIMA PEÇA

Sandra Freire

 

Se fossemos um quebra-cabeça nossa montagem se daria ao longo de nossas vidas.  As primeiras peças começariam a se encaixar logo após o nascimento. Talvez a primeira fosse o choro, preconizando a dor que nos acompanharia até o final.

Mais do que apenas dor, o choro também traduz ansiedade, descontentamento, raiva, frustração, tristeza, felicidade - e sabe-se lá o quê mais.

As demais peças vão se acomodando ao longo de o tempo. É como se ao lado de cada peça tivesse um espaço para seu complemento. A eterna busca, para preencher os espaços vazios, acontece sem que nos apercebamos disso – são as exigências, as ilusões que acalentamos conscientemente, os sonhos, as esperanças e por aí vai...

O tempo ameniza a dor das ausências; a memória suaviza lembranças dolorosas.

 

sábado, 25 de junho de 2022

EXORCISMO

 

Sandra Freire

É preciso exorcizar nossos demônios ou eles continuarão no controle de nossas vidas. Experiências passadas devem ficar no passado. Quando terminamos de ler um livro, o fechamos e passamos ao seguinte. Por melhor que tenha sido a leitura, em algum momento, podemos nos surpreender com algo melhor ainda.

É fato que os demônios sejam resistentes. Estão em nós como se fossem indissociáveis; ditam regras; escolhem ou rejeitam outras pessoas; fazem comparações e ocupam um lugar que não lhes pertence mais.

Tentamos sufocar nossas carências preenchendo o tempo com mecanismos que só servem para nos distanciar de um convívio social - o que poderia ser bastante saudável. Já estamos atravessando um período de afastamento, que só facilita o equívoco nas escolhas (?) sentimentais. Daí aquela inquietude do eterno “Será que...” E, se não for?”.

E ainda nos surpreendemos com tantos desencontros. Já estamos esquecidos de que os encontros se davam num cruzamento de olhares, um sorriso e o indisfarçável constrangimento que delatava uma atração. Isso é insubstituível.

sábado, 11 de junho de 2022

ESQUECIMENTO

 

Sandra Freire

E, um belo dia eu lembro que esqueci.

Esqueci-me de buscar

Esqueci-me de olhar o quê não há

Esqueci-me de pensar

E de esperar

Esqueci-me de lembrar. E, me fez um grande bem ter esquecido de lembrar que era preciso esquecer.

E

Lembro-me de olhar à volta

Lembro o quanto é bom esquecer...

terça-feira, 10 de maio de 2022

 

AUSENCIA

Não é difícil conviver com uma ausência, mas é quase impossível viver sem ela.

Aquela pessoa que você não vê, mas sabe que existe, pode surgir a qualquer momento.

 É real.

 Talvez sua ausência seja mais benéfica do que sua presença, mas está em algum lugar.

A crueldade de a morte consiste em nos privar até de a ausência. É o nada.

 É a certeza de o nunca mais.

 É como se fossemos proibidos de sonhar.

 Pode-se sonhar com uma criação, com alguém distante, com alguém que se quer ter,

 mas não com alguém que se foi, porque não existe mais.

Quando se perde alguém importante, é preciso reaprender a viver. É preciso querer.

 Tudo e todos à volta perdem a importância. Como repor alguém?

 Qual o remédio para a dor de a perda? O tempo? E o que vai restar de nós após esse tempo?

 Quanto tempo?

A ferida vai fechar. Mas a cicatriz vai desaparecer?