quinta-feira, 27 de novembro de 2014




AMIGO,
Sandra Freire

Tentou-se resumir em uma só palavra algo tão raro, intenso, forte, atemporal, sem lugar, sem quê e por quê (?).

Amigo é algo como alma-gêmea. Pode estar em qualquer lugar, ter qualquer cor, ser revestido de feio ou bonito, ser de uma condição social muito acima ou muito abaixo, falar bem ou falar mal, morar bem ou mal etc.

Alguém que está sempre ali, não importa aonde seja o ali. Tem sempre um ouvido solícito, um ombro macio, um braço, que pode ser delgado e nem tão jovem, mas forte, um apoio rígido, confiável.
Pode falar com erros de português, mas com palavras sábias, nem sempre agradáveis, porém de uma sinceridade que traz nas entrelinhas o desejo de te ver melhor.
É aquela mão sempre presente que te ajuda a levantar e te mostra que à frente ainda tem algo que merece ser vivido.

As vezes, guarda um silêncio que tudo diz. É a palavra que te cala fundo. É a paciência com erros recorrentes. Traz no olhar a luz que mostra o caminho a ser seguido.
As portas de seu barraco ou palácio estão sempre abertas para recebê-lo, sem medo de que você um dia possa precisar entrar. Divide com você o muito ou pouco que possui, material ou imaterial. Sabe guardar, a sete chaves, seus mais íntimos segredos.

Ah, é pedir demais. É tão difícil, ou mais, do que encontrar o verdadeiro amor.
Se for possível abandonar o preconceito, baixar as exigências, aprender a dar sem pedir, saborear o café tanto na xícara como no copo, manter as portas do coração abertas, o ombro disponível, a mão forte e guardar o silêncio sábio e o olhar que ilumina o caminho...


domingo, 26 de outubro de 2014

CONVIVA

              

                                                              
Sandra Freire
A maturidade é sábia. Pena que se apresente tão tarde em nossa vida. Como se diz, experiência, só o tempo dá. Maior prova disso é que quando jovens, sabemos que sabemos tudo. Quando velhos, sabemos que sabemos tão pouco. O tempo, então, nos parece escasso. Vem a pressa. Pressa de aproveitar mais, ler mais, aprender mais. Reviver mais.


Vem também a saudade. Saudade dos que se foram fisicamente. Saudade dos que passaram por nossa vida e deixaram boas lembranças.
 Ah, as lembranças! Guardar lembranças é como guardar objetos. Só os importantes merecem ser guardados.
Lembranças são fotos tiradas pela mente. Não dependem de nada para serem vistas. Revelam-se a qualquer hora, em qualquer lugar. Por vezes, sem aviso.

Uma bebida qualquer, num cantinho tranquilo, com música de fundo, bem baixinho e lembranças... Aí, só depende de nós. Deixar-nos levar ao paraíso. Lá estão todas as pessoas das quais gostamos. Lá estão todos os belos momentos vividos. Lá estão os mais lindos lugares onde estivemos ou gostaríamos de ter estado. Lá estão nossas mais caras fantasias. Lá, podemos tudo. Podemos ser jovens, maduros, belos, amados, felizes.

O melhor, saber que ainda temos meios de visitar o paraíso. 

Reencontrar velhos amigos, rever filmes que trouxeram encantamento a nossa geração, ouvir músicas que nos fazem sonhar acordados.
Ver fotos já amarelecidas por um tempo que passou, mas quando revistas adquirem brilho e frescor, abrindo um caminho que nos conduz ao encantamento de momentos felizes ali registrados.
E, o mais importante, podemos perder tudo, menos nosso paraíso interior. Nisso, ninguém pode interferir.
Com o resto, basta conviver.