quinta-feira, 16 de abril de 2015

VIVER

 
 




“O que importa afinal, viver ou saber que se está vivendo?”
                                                                       Clarice Lispector

Sandra Freire
Para transformar o sobreviver em viver é preciso coragem, força, desejo. Não mentir para si mesmo. Olhar para dentro da própria alma sem reservas. Responder com honestidade se está acordando para mais um dia ou menos um dia. É preciso coragem para reinventar o presente antes que ele se torne passado. Afinal, esse disco não vai tocar outra vez.

Se viver é preciso, que seja da melhor maneira possível. Vamos reeditar a alegria, os amigos, os bons lugares. As mágoas passadas devem ser deixadas no passado, pois, se relembradas, ganham mais uma batalha. As lembranças que devem vir à tona são as de bons momentos. Boas lembranças quando empilhadas sobre as más, tendem a dominar, desvanecendo o que deve ser esquecido.

Superar deficiências ainda que remanescentes e não transformá-las em barreiras, requer equilíbrio e bom senso. O que é importantíssimo para uns, pode não ter o mesmo peso para outros. Nada, por pior que se configure, deve bloquear o caminho.

Devemos deixar o passado em paz, limpar o coração usando a cabeça, acalmar a alma cobradora do que poderia ter sido e não foi. Depor as armas e voltar o olhar teimoso para o que está nos acenando e conceder uma chance ao quê, pacientemente, nos aguarda. Ao invés de olhar para frente na roda de Belmiro Braga, olhar para trás.

Segundo Charles Chaplin, o homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. A espera, que faz contraponto com a inquietude, é sustentada pelo inconformismo do tempo perdido sem luta.

O sobrevivente junta seus cacos, os cola e se deixa levar pela vida.
O que escolhe viver, junta seus cacos e constrói um novo ser. Reflete no olhar a certeza de estar mais forte. Não cede ao inconformismo e cobra da vida o troco em felicidade, do que foi pago a mais em sofrimento.