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“Se nós pudéssemos vender nossas experiências pelo que elas nos custaram,
seríamos todos milionários.”
Abigail Van Buren
Sandra Freire
O que nos acontece é de nossa responsabilidade, pura e simples. Mesmo
assim, teimamos em culpar o(s) outro(s). É mais fácil aceitar que, SE não
fosse... SE, a situação tivesse permitido...
SE, desse para imaginar... Ele (a) precisava tanto de mim naquele
momento! Eu não podia pensar SÓ em mim, blá, blá, blá... Mesmo com o calor da
convivência diminuindo, nosso olhar se perdendo em reflexões inconfessáveis,
insistimos em não chutar a bola que está aos nossos pés.
Até que, um dia qualquer, quando o trem com os nossos sonhos faz a
curva no infinito, o “outro”, sem SE, lhe comunica que está indo. E, como
ninguém sai com a mesma simplicidade com que entrou, inclui uns poucos e
frágeis argumentos. Desnecessários por sinal. Simples palavras ao vento.
Quando alguém anuncia que está indo, é porque, na verdade, já foi. Não
vimos. Não quisemos ver.
É como uma casa que vai se
esvaziando gradativamente. Tira-se primeiro o que é mais antigo e está fora de
uso, como as confidências. Depois, o que se está usando menos, como a alegria
da intimidade. A seguir, os objetos excedentes, como a ansiedade pelo
reencontro diário. Mas, quando o coração não mais se acelera, é porque todos os
móveis já se foram e só o eco do arrependimento nos faz companhia.
Mas, estava tudo lá. Os dependentes crescendo e se tornando autônomos.
Seres únicos, como todos, soltando as amarras e seguindo seu próprio caminho. A
convivência com o(s) outro(s), cada vez mais burocrática. Assuntos gerais,
comentários sobre o dia de cada um, obrigações cumpridas- leia-se cinema,
teatro, amigos, casamentos, jantar fora etc. Com o tempero da indiferença, o
corpo presente, a cabeça ausente.
E, nosso trem passando. Deslizando suavemente nos trilhos, sem
barulho, levando consigo uma carga tão preciosa que, guardada no seu interior
de aço, só pode ser liberada com a chave da consciência que nosso egocentrismo
não nos permite ver. Que não somos tão importantes assim. Que, quando nos
formos, a roda que faz o mundo girar, não perderá um único dente e cada um
seguirá seu próprio destino.
Então, nos deparamos com os trilhos vazios, refletindo a luz dos
sonhos que se distanciam e ameaçam desaparecer num lugar qualquer, aonde a
esperança não mais alcança. Só a fumaça fazendo a ligação entre nós.
Para que um novo final seja escrito, precisamos tão somente não
permanecer parados na plataforma. Temos de alcançar o estribo do trem que
passa, adentrá-lo - mesmo em movimento –e seguir viagem. Não importa aonde ele
vai, ele É o nosso trem. Seu destino é onde queremos chegar.
Para isso, o que vale, mais que tudo, é chegar ao fim da viagem com
tempo suficiente para desfrutar o que nos aguarda.
Pois...
Também nós, na hora já marcada – desde quando chegamos -, como tantos
que já se foram, com o passar do tempo, seremos apenas uma lembrança que, aos
poucos, se apagará.