FEMINICÍDIO
“Não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens,
mas sobre si mesmas”.
Soror Juana Inês de La Cruz (Séc. XVII)
O que nós, mulheres, podemos ainda fazer para evitar tal
crime? Pouco, mas ao alcance de todas.
Comecemos por não nos iludir com discurso macio; frases de
efeito – tudo me lembra você; sonhei com você, blá blá blá...
Gentilezas com flores, escritos em guardanapos, mensagens no
meio da noite – pensando em você. Sermos pegadas e levadas em casa; portas
abertas e cadeiras puxadas.
Bom demais! Demais mesmo, principalmente quando esse ser
perfeito – em geral, surgido do nada, sem referências confiáveis -, está
sobrando. Será?
Convenhamos! Uma vez
postas as qualidades, passemos aos defeitos. Esse cinquentão, sessentão ou em
torno de uma idade que traz junto uma ou mais ex; filho(s), neto(s); uma vida
estável, pode até vir sem cavalo branco.
A questão é: Como desconfiar de algo tão maravilhoso? É
claro que o problema é dela, a EX. Ele, carente, maravilhoso, estava desejando
e esperando exatamente por VOCÊ; é a suprema felicidade!
Quem, em sã consciência, pediria o Atestado de Antecedentes
do moço? Para quê? Afinal, quem o apresentou afirma que é excelente pessoa – de
homem para homem, em geral, são.
O tal atestado quando não pedido de início, com o passar do
tempo, torna-se uma inquietação – se ele souber pode abalar o maravilhoso
relacionamento.
A questão é que mais do que sabido, e ignorado, é que o
espancador, assassino e algoz psicológico de mulheres é reincidente.
As denúncias, cada vez mais incentivadas, servem não só para
inibir essas ações e prevenir possíveis futuras vítimas.
Há que se lançar mão de tão valioso instrumento de defesa e
prevenção, sem reservas.
A intensidade de a dor de tal descoberta é diretamente
proporcional ao tempo de adiamento de o pedido.
Com dados na internet, cerca de 70% de feminicidas no DF são
reincidentes.
É hora de diálogo aberto. Vamos prestigiar um trabalho sério
e árduo de as delegacias de mulheres, evitando sobrecarregá-los com algo
evitável.
Vamos continuar acreditando em “Comigo vai ser diferente”?
Ele prometeu que vai mudar; chegou a jurar entre lágrimas que a culpa foi
“dela”. Ele foi provocado; ficou com ciúmes; jamais faria isso; foi só para
assustá-la... Feminicidas se enquadram aí.
É bom lembrar que eles, muitas vezes, fazem parte de uma
família, que geralmente omitem seus problemas esperando que uma boa moça opere
o milagre de reabilitá-los.
Prestar atenção aos detalhes de comportamento pode ajudar
bastante. Se fala muito mal da ex, cuidado, você pode ser a próxima. Te
respeita em público? É coerente nos relatos? Mente? Lida bem com
contrariedades? Perde a calma com facilidade? Assume ter errado?
Com o passar do tempo e o aumento de intimidade, defeitos
tendem a se agigantar.
A tela é negra, sem dúvida. Mas, relembrando um pensador
notável, Dr. Flávio Gikovate, para se ligar em alguém, com real senso crítico,
é preciso antes de tudo aprender a estar só. E bem!
Quem tem amigos, gosta de cinema, lê, curte a família e se
dedica ao que faz nunca se sente só. Aliás, antes só..., era o que se preferia
ao mal acompanhado. Mas, a tal da carência afetiva, principalmente a partir de
certa fase da vida, inverteu a ordem desse ditado.
Imagine um bom filme ou livro; organizar aquelas fotos
antigas; falar com algum amigo ao telefone sem pressa; apagar a luz e dormir
com a cabeça desocupada de “Será que ainda vai ligar”? Por que não ligou?
Fica a sugestão: Nada melhor do que sentir-se livre;
disponível para o que der e vier, exercitando a observação, criteriosamente,
sem concessões.
Tudo isso, para errar
menos.