sexta-feira, 17 de abril de 2020

A DITADURA DA TECNOLOGIA



 Sandra Freire
Estamos sendo gradativamente escravizados pelos aparelhos eletrônicos. Estamos entregando nosso presente graciosamente. Estamos perdendo o uso de a escrita; o prazer de o encontro com amigos e parentes para trocar ideias. Estamos perdendo conquistas importantes feitas pela geração “Baby Boomers”. Tudo está se perdendo, com a nossa cumplicidade. O caminho percorrido está sendo caprichosamente apagado, ou deletado, para usar termos mais atuais. Aliás, o que será “atual” com a velocidade imposta à vida?

 O passado e os erros nele cometidos – povos apátridas vítimas de genocídio; as Guerras; o Holocausto; tentativa de extermínio de uma etnia por outra, no mesmo país, e outras barbaridades que têm ainda hoje sobreviventes. Não será esse “esquecimento” uma porta aberta a novos velhos acontecimentos? Não? O que está acontecendo neste momento no Afeganistão, Paquistão, Sudão, Myanmar...

Os Baby Boomers – geração nascida entre 1946 e 1964-, queimaram sutiãs, derrubaram preconceitos raciais, étnicos, religiosos etc, na doce ilusão de mais que liberdade, integração entre pessoas, sem barreiras de qualquer espécie. Surge aí uma mensagem que ficou gravada em nós por gerações, e hoje nada mais é do que uma linda utopia; Imagine, escrita e interpretada por John Lennon, no seu último LP. Aqueles que não souberem a quê me refiro, o Google satisfaz qualquer curiosidade em segundos.

 Deixe que sua memória continue morrendo em paz.

O prazer de um encontro casual; o calor de um abraço; o enlevo de um beijo; a segurança de as mãos dadas; o contemplar a natureza; o encantamento de uma poesia lida em conjunto e muito mais, estão confinadas no Imagine, somente para quem tem o quê lembrar.
Perder um celular é mais que perder um aparelho. Com ele se vão os contatos com outras pessoas, compromissos assumidos, agendas de telefone, endereços, amigos e nossas vidas. Ah, tem a nuvem! É fato. Podemos colocar nossa vida na “Nuvem” que ela jamais se perderá. Certeza? O que é mesmo “certeza”?

Estamos resumidos a números, o CPF e o CEP. Em qualquer estabelecimento comercial, confiável ou não, basta seu número para que sua privacidade seja invadida. Orwell e McLuhan – autores de 1984 e Teoria da Aldeia Global-, nos avisaram.

Estamos prefaciando a mais apavorante história de terror jamais escrita.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

COM OS JOVENS TENHO APRENDIDO



Que a vida não é curta
Antes, o tempo que nos resta quando enfim compreendemos
Que perdemos tanto tempo
Cultivando mágoas
Pensando em quem não vale a pena
Não tendo vivido romances
Que nos pareceram inadequados
Que é covardia culpar o(s) outro(s)
Por não termos feito o que queríamos

Que é sábio 
Colecionar momentos
Amigos
Fazer loucuras
Amores

A vida tem me ensinado
Que para exorcizar um grande amor
Só vivendo-o
Que só devemos fidelidade a nós mesmos
Que, se ainda assim
Não somos felizes
É preciso continuar aprendendo
Pois, fugir é um lugar que não existe

quinta-feira, 2 de abril de 2020

QUANDO O OUTRO SE VAI



Não é sem aviso. Nunca. Atitudes e olhares mal interpretados. Pistas ao vento.
A impaciência com fatos recorrentes, talvez seja a primeira pista a ser seguida. O “não sei” tem um tom diferente – carrega um quê de culpa e desejo de evitar o assunto. O cansaço travestido de exaustão; aquele olhar que vai muito além de você; um sono irresistível; mas o “tiro de misericórdia” é quando seus defeitos usuais são colocados no banco dos réus, julgados e condenados como crime hediondo. A culpa de tudo é SEMPRE do outro.

E, como explicar que o outro se sinta mesmo culpado? Que comece a buscar “aonde foi que eu errei?”. Mas pode piorar: É quando o acusado começa a encontrar seus “erros” e reconhecer que é preciso mudar. Aí começa a real agonia. Essa negativa em reconhecer a finitude de a relação entre dois seres é uma doença que evolui, fazendo definhar o respeito mútuo.

Ninguém tira o outro de alguém. Simplesmente perdem-se as pessoas. Bem, é nisso que dá considerar pessoas como propriedade. Embora pessoas não sejam nossas, podem estar em nós o tempo que quisermos pois “Saudade é solidão acompanhada/é quando o amor ainda não foi embora,/mas o amado já.../Saudade é amar um passado que ainda não passou, (...) /Saudade é sentir que existe o que não existe mais...(...)” Neruda

Uma vez alguém tenha entrado em nossa vida, partilhado bons momentos e tido um papel de inegável relevância, só sairá se quisermos. É muito parecido com o que fazemos com nossos entes queridos. Mesmo depois de mortos, continuam ocupando um lugar em nós. Lançamos mão de lembranças para manter vivo quem já morreu.
Por que não fazemos o mesmo com aqueles que simplesmente se afastaram?

 Lembranças podem ser escolhidas, realidade não.