sábado, 4 de janeiro de 2020


FEMINICÍDIO

“Não desejo que as mulheres tenham poder sobre os homens, mas sobre si mesmas”.
Soror Juana Inês de La Cruz (Séc. XVII)

O que nós, mulheres, podemos ainda fazer para evitar tal crime? Pouco, mas ao alcance de todas.
Comecemos por não nos iludir com discurso macio; frases de efeito – tudo me lembra você; sonhei com você, blá blá blá...

Gentilezas com flores, escritos em guardanapos, mensagens no meio da noite – pensando em você. Sermos pegadas e levadas em casa; portas abertas e cadeiras puxadas.
Bom demais! Demais mesmo, principalmente quando esse ser perfeito – em geral, surgido do nada, sem referências confiáveis -, está sobrando. Será?
Convenhamos!  Uma vez postas as qualidades, passemos aos defeitos. Esse cinquentão, sessentão ou em torno de uma idade que traz junto uma ou mais ex; filho(s), neto(s); uma vida estável, pode até vir sem cavalo branco.

A questão é: Como desconfiar de algo tão maravilhoso? É claro que o problema é dela, a EX. Ele, carente, maravilhoso, estava desejando e esperando exatamente por VOCÊ; é a suprema felicidade!
Quem, em sã consciência, pediria o Atestado de Antecedentes do moço? Para quê? Afinal, quem o apresentou afirma que é excelente pessoa – de homem para homem, em geral, são.
O tal atestado quando não pedido de início, com o passar do tempo, torna-se uma inquietação – se ele souber pode abalar o maravilhoso relacionamento.

A questão é que mais do que sabido, e ignorado, é que o espancador, assassino e algoz psicológico de mulheres é reincidente.
As denúncias, cada vez mais incentivadas, servem não só para inibir essas ações e prevenir possíveis futuras vítimas.

Há que se lançar mão de tão valioso instrumento de defesa e prevenção, sem reservas.
A intensidade de a dor de tal descoberta é diretamente proporcional ao tempo de adiamento de o pedido.  Com dados na internet, cerca de 70% de feminicidas no DF são reincidentes.
É hora de diálogo aberto. Vamos prestigiar um trabalho sério e árduo de as delegacias de mulheres, evitando sobrecarregá-los com algo evitável.

Vamos continuar acreditando em “Comigo vai ser diferente”? Ele prometeu que vai mudar; chegou a jurar entre lágrimas que a culpa foi “dela”. Ele foi provocado; ficou com ciúmes; jamais faria isso; foi só para assustá-la... Feminicidas se enquadram aí.

É bom lembrar que eles, muitas vezes, fazem parte de uma família, que geralmente omitem seus problemas esperando que uma boa moça opere o milagre de reabilitá-los.
Prestar atenção aos detalhes de comportamento pode ajudar bastante. Se fala muito mal da ex, cuidado, você pode ser a próxima. Te respeita em público? É coerente nos relatos? Mente? Lida bem com contrariedades? Perde a calma com facilidade? Assume ter errado?

Com o passar do tempo e o aumento de intimidade, defeitos tendem a se agigantar.

A tela é negra, sem dúvida. Mas, relembrando um pensador notável, Dr. Flávio Gikovate, para se ligar em alguém, com real senso crítico, é preciso antes de tudo aprender a estar só. E bem!
Quem tem amigos, gosta de cinema, lê, curte a família e se dedica ao que faz nunca se sente só. Aliás, antes só..., era o que se preferia ao mal acompanhado. Mas, a tal da carência afetiva, principalmente a partir de certa fase da vida, inverteu a ordem desse ditado.

Imagine um bom filme ou livro; organizar aquelas fotos antigas; falar com algum amigo ao telefone sem pressa; apagar a luz e dormir com a cabeça desocupada de “Será que ainda vai ligar”? Por que não ligou?

Fica a sugestão: Nada melhor do que sentir-se livre; disponível para o que der e vier, exercitando a observação, criteriosamente, sem concessões.

 Tudo isso, para errar menos.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

NADA MAIS BELO


NADA MAIS BELO

Que a experiência não vivida

Que a flor que não abriu

Que a música interrompida

Que a festa perdida

Que o lugar não visto

Que o sonho não realizado

Que o livro não escrito

Que as palavras não ditas

NADA MAIS TRISTE

Quando não há mais o que sonhar

Que o que se foi logo ao chegar

Que a morte da flor logo após florescer

Que a musica não esquecida

Que a festa quando acaba

Que o lugar que não existe mais

Que o livro em branco

Por não ter o quê escrever