sábado, 28 de março de 2020

CONFINAMENTO



É a ficção se tornando realidade. O inimaginável convivendo intimamente com cada um de nós. Temos tempo para tudo, mas nada podemos fazer.
Estamos diante de um dos momentos mais importantes de nossas vidas. Talvez, para a maioria, não surja outro igual. Talvez, a maioria nem se aperceba ainda o quanto de nosso interior está para emergir. São lembranças de tempos felizes, pessoas queridas, lugares que serão revisitados em fotos e ou memória.
Decisões importantes serão tomadas nesse período. Convivências serão analisadas e reavaliadas. Tantas decisões têm sido adiadas, simplesmente porque não temos noção de tempo. Temos adiado a convivência com amigos e familiares; uma pequena viagem; uma visita; um encontro para um café ou um passeio num parque.
Temos avaliado as pessoas pelo ter. Queremos ser amados por quem for inteligente, bem sucedido, bem vestido e frequente bons lugares.
O hedonismo tem feito parte de nossas vidas há tanto tempo que respostas imediatas são indispensáveis.
Afinal, não temos tempo!
Não?
Os restaurantes estão fechados, as lojas também. As salas de reunião estão vazias. As domésticas não podem vir; os banheiros precisam ser lavados, as roupas idem etc...
Somente agora poderemos avaliar o quê tem estado confinado em nós.
Quem sabe a importância que não temos dado a quem tem sido importante no nosso dia a dia; a presença invisível de os que fazem a nossa rotina possível; a não atenção ao carinho demonstrado pelos que parecem inferiores e mais e mais.
Até onde nossa seletiva memória permitirá que esse período seja lembrado como trágico e, ao mesmo tempo, revelador?