É a ficção se tornando realidade. O inimaginável convivendo
intimamente com cada um de nós. Temos tempo para tudo, mas nada podemos fazer.
Estamos diante de um dos momentos mais importantes de nossas
vidas. Talvez, para a maioria, não surja outro igual. Talvez, a maioria nem se
aperceba ainda o quanto de nosso interior está para emergir. São lembranças de
tempos felizes, pessoas queridas, lugares que serão revisitados em fotos e ou
memória.
Decisões importantes serão tomadas nesse período.
Convivências serão analisadas e reavaliadas. Tantas decisões têm sido adiadas,
simplesmente porque não temos noção de tempo. Temos adiado a convivência com
amigos e familiares; uma pequena viagem; uma visita; um encontro para um café
ou um passeio num parque.
Temos avaliado as pessoas pelo ter. Queremos ser amados por
quem for inteligente, bem sucedido, bem vestido e frequente bons lugares.
O hedonismo tem feito parte de nossas vidas há tanto tempo
que respostas imediatas são indispensáveis.
Afinal, não temos tempo!
Não?
Os restaurantes estão fechados, as lojas também. As salas de
reunião estão vazias. As domésticas não podem vir; os banheiros precisam ser
lavados, as roupas idem etc...
Somente agora poderemos avaliar o quê tem estado confinado em
nós.
Quem sabe a importância que não temos dado a quem tem sido
importante no nosso dia a dia; a presença invisível de os que fazem a nossa
rotina possível; a não atenção ao carinho demonstrado pelos que parecem
inferiores e mais e mais.
Até onde nossa seletiva memória permitirá que esse período
seja lembrado como trágico e, ao mesmo tempo, revelador?