segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

SER LIVRE








"A conquista da liberdade é algo que faz tanta poeira, que por medo da bagunça, preferimos, normalmente, optar pela arrumação."
Carlos Drummond de Andrade   
                                  

Sandra Freire
Quem preserva sua capacidade de imaginar sempre será livre. Nada pode privar de liberdade o nosso pensamento. Mesmo acorrentados podemos voar. Aonde quer que estejamos, podemos estar noutro lugar.
Um ser humano não pertence a outro – dito no filme Divã. É definitivo, não pertence mesmo. As pessoas apenas fazem parte da vida de alguém. 

Eliminar o possessivo das relações interpessoais pode ser o primeiro passo para um melhor entendimento. O “meu” marido, “minha” mulher, “meu” filho etc.
Melhor seria encarar seres humanos como participantes do meio em que vivemos, ocupando cada qual seu espaço, sem interdependência.

O caos afetivo dos dias atuais, onde ex-maridos, companheiros e afins se julgam no direito de matar suas ex., possivelmente não se teria instaurado se ninguém fosse considerado propriedade de ninguém.
O quê, realmente, nos pertence, além de nossas lembranças e desejos? Se comprarmos um objeto, ele será nosso, ou não, até morrermos. Essa perda, de certa forma, é esperada. Coisas são finitas.

Sentimentos também.

Ah, Fernando Pessoa: " O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".

Segundo Bernard Shaw..." quando dois jovens se apaixonam, colocam-lhes à frente um juiz de Paz e fazem-nos jurar que esse estado patológico durará para sempre”.

Uniões duradouras felizes, pseudo felizes e infelizes em nome da família, da moral, da fachada, da dependência, seja ela qual for, foram definidas por Drummond, que sabia muito bem do que estava falando.
O próprio poeta se referia ao casamento como prisão. Falava em conquista da liberdade, nos deixando a sensação angustiante de necessidade de ar para sobreviver.

O amor é fluido como a sensação de estar voando no espaço infinito; forte como as raízes que sustentam as mais altas sequoias e tem razões que só são explicadas pelo mais profundo silêncio...



PESSOAS




Imagem do Google
Sandra Freire
                                                                  
Pessoas que vêm e que vão. A maioria passa por nossas vidas sem deixar vestígios, como parte da paisagem que sempre muda. Vão passando e sendo substituídas por novas imagens.

Raros são aqueles que vêm e vão, mas não passam.

 Vão-se os anos, tentamos ocupar com outros aquele lugar especial que há em todos nós. Aquele lugar que quando vazio, vez ou outra, nos inunda de uma nostalgia sorrateira, despertada por música suave, paisagem que vai ao infinito como a melancolia da saudade.

Quanto mais tempo passa, maior a sensação de perda, a tristeza de algo não vivido. Mas, se vivido teria estado à altura das expectativas? Não será a imaginação mais pródiga em fantasia do que a realidade? É possível alcançar a felicidade no sonho, embora de modo fugaz.

 Na realidade, é possível viver o sonho?

Há dias em que os sonhos quase se materializam. É possível sentir a presença do outro. É possível dar voz ao outro. É como estarmos bem perto da tela que reproduz os nossos sonhos, mas que, de modo cruel e realista, nos impede de fazer parte do elenco.

O sonho é uma abstração. Enleva, mas não toca, não aquece. Porém, não traz riscos, é perfeito. Pode durar para sempre.

Trazer um sonho para a realidade é como copiar a obra de um grande mestre, nunca será o mesmo.

Enfim, existe um sem número de desculpas para não encarar a frustração de não pertencer ao grupo restrito dos afortunados que encontraram e ainda encontrarão o seu complemento.