domingo, 25 de janeiro de 2015

INFERNO PARTICULAR




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Sandra Freire
Envelhecer é a vingança dos velhos da nossa juventude.



Criamos mecanismos durante a vida para torná-la um pesadelo. Pior, cada vez mais cedo. Esquecemos que começamos a envelhecer ao nascer. Minutos depois, já somos mais velhos do que os que estão nascendo. Mesmo assim, insistimos em privilegiar a juventude. Como se a juventude fosse privilégio de alguém. Como se só a juventude tivesse direito à felicidade.

Escondemos e negamos a idade como se fosse uma doença contagiosa. Buscamos meios para ter uma aparência mais jovem. Vivemos o presente olhando para o passado. E assim, só conseguimos viver o presente quando ele já é passado. Esquecemos que no futuro seremos mais velhos que no presente.

Seguir vivendo passa a ser algo pensado, calculado. Estabelecemos termos de comparação com o que fomos. Buscamos nas outras pessoas defeitos que justifiquem os nossos. Culpamos os espelhos que mostram uma imagem que não gostamos mais de ver.

Permitimos que a aparência tão cobrada e valorizada nos nossos dias não deixe que sejamos felizes. Negamos nossa inteligência ao fazer parte desse universo –pobre de espírito- que exclui valores duradouros, adquiridos pela experiência de toda uma vida.

Quando os cabelos mudam de cor, a barriga chega antes dos pés, as mãos pedem mais anéis-no caso das mulheres-, os óculos são usados para disfarçar as olheiras, ­- mais do que para ver melhor- é chegada a hora de lançar mão de outras armas e ir à luta.

Vamos despir sem pudor essa armadura onde estivemos aprisionados toda a juventude. Vamos rir de nossos defeitos, encarar aqueles que ainda nos olham buscando o que fomos e cegos ao que nos tornamos.

 Vamos viver no presente, cientes de que no futuro teremos saudade do que somos agora.




quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

TRAIÇÃO





Sandra Freire

Traição é entregar segredos, prometer e não fazer, combinar e não comparecer sem aviso e outras coisas do gênero.

Só que o tema a ser abordado envolve apenas duas pessoas. Duas pessoas que estão. Estão porque seus corações se aceleram quando veem o outro.

 E estão porque tão somente querem estar. Sem mais.

Quando um pensa no outro tudo o mais perde a importância. Conseguem sentir o outro mesmo à distância. Um sopro quente no pescoço. Arrepio. O suave roçar de corpos quando em público.

Parafraseando Rorô num momento de rara inspiração: “... sonhando acordada, dormi com você”.

 O mundo passa a ser visto pelo lado mais belo, negando a realidade que nos cerca. A impaciência com as esperas passam a ser bem-vindas. É mais tempo para pensar no outro.

A espera do encontro é o começo da felicidade. O encontro É a felicidade. Gestos simples como a mão na mão, antecipam o momento em que a física é contestada, porque então dois corpos vão ocupar um mesmo lugar no espaço.

Não dá para imaginar uma terceira pessoa nisso. Simplesmente... não cabe!

Se houver é porque você está no roteiro errado. 


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O TEMPO






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Sandra Freire

...está sempre presente, do início ao fim. No início, quando o ser esperado é bem-vindo, ele passa lentamente como uma cena em câmera lenta, se fazendo notar e contar.

No decurso da vida, quando as expectativas ainda são muitas, ele mostra quem está no comando. Acelera e freia quando bem entende. Mas não se faz notar.

Só quando se olha para trás é que ele mostra sua verdadeira face.

 Como num sonho, onde se ouve sem som, ele diz o quanto passou. Utiliza-se dos que chegaram depois, da mudança de cenário, da necessidade de tingir os cabelos, das roupas que não cabem mais, das lembranças que agora são revividas em sépia.

Lutar contra ele é tão inútil quanto pensar que podemos usar um sapato menor que o pé. Por mais belo que seja, vai se tornando incômodo e termina por se mostrar insuportável. O arrependimento é inevitável. Insistir acaba deformando os pés assim como ele vai – aos poucos – deformando nossos sonhos.

Adaptar nossos sonhos à nossa realidade é doloroso. Muito doloroso. Muito há de ficar pelo caminho, como as quinquilharias que vão caindo de um burro sem rabo que avança por um caminho de paralelepípedos. Em todos, ao olhar para trás, há a sensação de perda.

O passado, quando relembrado, sempre se mostra lindo, quase perfeito.

O presente pede para se livrar das impurezas aderidas ao longo do caminho. Pede nova roupagem para com ela entrar num futuro melhor.

É preciso agarrá-lo como a um touro à unha e nele presente, impormos nossos desejos, lutando para transformar nossos sonhos em realidade, para que ele se torne então cúmplice e não algoz.


sábado, 10 de janeiro de 2015

QUE SEJA ETERNO ENQUANTO DURE...


                                                                                                                                                                               

                                                                       


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E QUE DURE ETERNAMENTE



Sandra Freire
É o que todos querem, mas o que é tão esperado pode surgir na hora errada. Acrescentar algo quando a estória já está terminada e o livro fechado, é o que raros privilegiados conseguem fazer.

Resta uma reflexão: Como pertencer a essa casta tão afortunada?

Creia, nada!

Apenas se mantenha disponível e atento para quando for atingido pela flecha de Cupido. Assim, sem aviso. Pode não dar tempo para se preparar, pôr uma roupa mais legal, arrumar o cabelo, fazer a maquiagem etc.

A sensação é de estranheza. Nem dá para reconhecer o que está acontecendo. Mesmo estando em meio a muita gente, todos desaparecem e você nem nota. Mas, o seu susto é notado. A flecha mágica que acertou dois coelhos, só não foi capaz de matar a racionalidade.

Por que então, não se deixar levar e enlevar por essa névoa que é capaz de dar novas cores ao entorno, ocupando de forma irreverente e repentina seu espaço, mesmo que fisicamente já ocupado?

Para que pensar, medir, pesar, cobrar, interpor... Medo de simplesmente... Aceitar?

Quem não tem um modelo idealizado para viver essa baderna emocional? Se sentir sem chão   na ausência do outro, o coração aos pulos com um leve roçar de rostos, a esperança de que um dia aconteça.

Aí vem o equívoco. Se entregar a outrem e tentar viver o que não houve. O modelo serve, mas não é.

O tempo passa, mas o anseio não.

Será que só a nobreza é capaz de renúncias para viver o grande amor?

Ou, só eles têm lucidez suficiente para saber que a vida tem de ser vivida? Aqui!