Imagem do Google |
Sandra Freire
Envelhecer é a vingança dos velhos da nossa juventude.
Criamos mecanismos durante a vida para torná-la um pesadelo. Pior, cada vez mais cedo. Esquecemos que começamos a envelhecer ao nascer. Minutos depois, já somos mais velhos do que os que estão nascendo. Mesmo assim, insistimos em privilegiar a juventude. Como se a juventude fosse privilégio de alguém. Como se só a juventude tivesse direito à felicidade.
Escondemos e negamos a idade como
se fosse uma doença contagiosa. Buscamos meios para ter uma aparência mais
jovem. Vivemos o presente olhando para o passado. E assim, só conseguimos viver
o presente quando ele já é passado. Esquecemos que no futuro seremos mais
velhos que no presente.
Seguir vivendo passa a ser algo
pensado, calculado. Estabelecemos termos de comparação com o que fomos.
Buscamos nas outras pessoas defeitos que justifiquem os nossos. Culpamos os
espelhos que mostram uma imagem que não gostamos mais de ver.
Permitimos que a aparência tão
cobrada e valorizada nos nossos dias não deixe que sejamos felizes. Negamos
nossa inteligência ao fazer parte desse universo –pobre de espírito- que exclui
valores duradouros, adquiridos pela experiência de toda uma vida.
Quando os cabelos mudam de cor, a
barriga chega antes dos pés, as mãos pedem mais anéis-no caso das mulheres-, os
óculos são usados para disfarçar as olheiras, - mais do que para ver melhor- é
chegada a hora de lançar mão de outras armas e ir à luta.
Vamos despir sem pudor essa
armadura onde estivemos aprisionados toda a juventude. Vamos rir de nossos
defeitos, encarar aqueles que ainda nos olham buscando o que fomos e cegos ao
que nos tornamos.
Vamos viver no presente, cientes de que no
futuro teremos saudade do que somos agora.