segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

TECNOLOGIA


A comunicação está também ao nosso desserviço. Enquanto a tecnologia cresce, o ser humano encolhe.  Tudo é descartável. Lembranças vão sendo gradativamente eliminadas em limpezas de armários; fotos, mensagens e outras preciosidades se perdem em computadores danificados .É a memória dele. E a nossa?

A primeira foto, no início do século XIX, ainda existe. Há 190 anos. De milhares que você tem tirado desde que o fotografar/deletar, disponível há menos de 20 anos nos celulares, quantas ainda estão guardadas? Já foi feita uma seleção? Quantos sentam ao computador para curtir momentos registrados virtualmente? Se a fotografia tivesse nascido digital, o que teria sido feito das lembranças de uma época em que só existiam pinturas, esculturas e desenhos como registro visual?
Estamos deixando de nos mover. O controle remoto nos mantém na cadeira. Até latas de lixo são abertas através de células fotoelétricas. Aparelhos desligam pelo do timer. Carros já há muito são controlados eletronicamente. Comandos são mais importantes que chaves.

Apagão

Celulares programam com eficiência os nossos compromissos. E avisam. A memória não é mais requisitada para tarefas simples como registrar um número de telefone. Basta abrir um aplicativo que está tudo lá. Numa fração de segundo o Google fornece milhares de informações sobre o assunto pesquisado. Livros são “baixados” em aparelhos levíssimos. Dicionários são visualizados em um clique. Tudo pode ser esquecido em casa, menos eles, os eletrônicos.
As mesmas mãos que antes se acariciavam e entrelaçavam nas do parceiro, agora estão sempre ocupadas “neles”. Diálogos são substituídos por elementos de comunicação cada vez mais rápidos. Copiar e colar. Vc, Tb, Tc, Rs, KKKK, substituem a norma culta. O importante é saber ler. Escrever, não.

A comunicação ficou mais rápida e eficiente
Já não é mais necessário saber ortografia. É só colocar as primeiras letras e o resto da palavra aparece. Como? É preciso lembrar que “alguém” a pôs lá. Como será no futuro quando esses “alguéns” forem morrendo? É assustador imaginar que a ortografia ficará nas mãos daqueles que esperam que as palavras sejam completadas eletronicamente.

NÃO CAIA NA REDE


Sandra Freire
Viver em um mundo que não é o nosso pode ser complicado. Entendê-lo então! Aonde está o meu mundo? A paquera, as noites olhando para o telefone esperando que ele tocasse? Aquele olho-no-olho que transmitia um calor ao corpo inteiro. O silêncio que valia mais que mil palavras; a paradinha de fração de segundo dada pelo coração para comunicar “encontrei!”. E na rede? E no Face, especificamente? Nos sites de namoro?

Muito se tem tratado sobre os relacionamentos nas redes sociais. Para alguns filósofos, a rede aumentou a solidão dos que nela buscam parceiros sentimentais. A insatisfação de as relações, iniciadas virtualmente, se deve ao fato de que “falta algo” no outro. Mas também pode ser que sobre algo, tipo abundância de oferta, como mercadoria exposta – popular açougue. É a caça se oferecendo ao caçador.

Historicamente, a caçada sempre proporcionou uma emoção difícil de explicar. Caçadores de animais prendem a respiração para sentir o movimento, sutilíssimo, de a caça. A caça, ao pressentir o caçador, desprende um odor que faz com que a adrenalina cause no caçador um calor intenso, mesmo em temperaturas negativas. São emoções intensas – na caça, com a proximidade da morte; no caçador, de a captura.

 Que foi feito de o frisson que um único e certeiro tiro proporcionava?
O caçador está se sentindo ameaçado. O ser preconceituoso, que habita no macho da espécie, é tão primitivo em suas reações que sequer as submete à luz da razão. Tudo mudou. Mesmo seu comportamento tendo se adaptado a este mundo líquido, onde nada dura, onde tudo escorre e se transforma - como descreve de forma inquietante o sociólogo Z. Bauman-, a sensação de insatisfação é constante.

Para simples observadores, desde os mais vividos até os menos experientes, o sucesso de os relacionamentos está mais propenso a uma determinada faixa etária, jovem, cuca fresca, sem grandes pretensões e com tempo suficiente para ir levando... Segundo o filósofo Pondé, até os 20 anos, o internauta não tem o foco específico no encontro de outro; já o enfoque de o internauta de faixa etária mais alta tende à perversidade. Pior, quanto maior a faixa etária do internauta, isso só se exacerba. É nessa faixa que se encontram as maiores perversões na rede.

A emoção do encontro é inesperada. A busca, infrutífera. Ele, o encontro, está de tocaia, em algum lugar, e lhe encontrará, porque não quer ser achado. Se, é fato que a realidade precede a ficção, já não há dúvidas de a fonte de inspiração de tantos romances que, que há séculos, encantam mentes sonhadoras, seja a vida, pura e simplesmente a vida.

Segundo a teoria existencialista de Sartre, somos obrigados a ser livres, (...) Assim sendo, nada pode determinar as decisões que tomamos, e tudo o que acontece em nossa vida é proveniente do passado e das escolhas que fizemos nele.