domingo, 27 de setembro de 2015

MEDOS

=Publicado no JG Jornal de Gramado em 18/08/2015

“Evitar a felicidade com medo de que ela acabe, é o melhor meio de se tornar infeliz.”
                                                                                                                                      Albert Einstein
Sandra Freire
O medo é paralisante. Surge nos momentos decisivos e estraga tudo. Impede de errar, mas também de acertar. De tentar, de saber, de ir, prosseguir. Sufoca sentimentos, anula emoções. É um meio bastante eficaz de gerar sofrimento.  Impede de tirar o pé do poleiro antes de prender o bico noutro apoio, como fazem os papagaios. É um envelope fechado que guarda um resultado que pode ser tão ruim que, com medo de abri-lo, perde-se a chance de ter algo bom.

Nosso contato com o medo é diário. Sentimos mais medo do que prazer ao longo da vida. Quando crianças, aprendemos a ter medo de injeção, dentista e tantas outras coisas que teremos de encarar pela vida afora. Temos medo de perder pessoas que amamos. O medo de não sermos correspondidos não nos permite amar o outro sem reservas. De perder o emprego. De não passar numa prova qualquer. De não sermos bem aceitos no meio.

Ao invés de vivermos com medo de errar, é no mínimo menos triste viver tentando acertar. Muitas vezes, com medo da perda, evitamos a posse.
Só que, viver com medo de que algo ruim possa acontecer, não impede que aconteça. Mas antecipa um sofrimento que poderia ser adiado. Ou, se não acontecer, nos deixará sempre na espera. É o sofrimento se sobrepondo à felicidade.

Temos muito medo de nós mesmos. De termos de encarar nossas próprias deficiências. De não sermos aos nossos olhos o que tentamos parecer aos olhos dos demais. Temos sobretudo medo de não conseguirmos “nos” enganar. Podemos tentar e até conseguir, enganar os outros. São infinitos os recursos para tal. Mas, na hora de despir a “fantasia”, só nós defrontamos a cruel realidade.

 Criamos mecanismos de defesa como o preconceito, que mantém afastado o que pode nos envolver; vícios, para substituir os prazeres não ousados; hábitos, que ajudam a preencher o tempo que, sobrando, pode levar a reflexões. Não mudamos o caminho com medo de não encontrar o de volta ao quê consideramos seguro, caso seja necessário. Que bom seria correr riscos cobertos de segurança. Seria...

Temos medo do desconhecido. Mudamos os móveis de lugar para não mudar de lugar. Somos nossos próprios algozes. Matamos nossas ilusões. Mas, elas são necessárias à vida. Condenamos-nos antes de sermos julgados. Não nos permitimos saber o que pensam a nosso respeito. Pré-julgamos com a leitura de olhares. Fugimos da guerra, mesmo em tempos de paz.  
O medo de sofrer esmaece a alegria de viver. O medo de não sermos amados não nos permite viver a beleza de amar.

Apenas Pablo Neruda exporia melhor esse medo:


“Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco"
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.”