Publicado no JG Jornal de Gramado em 24 nov 2015
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Sandra Freire
Cidade
que habita os sonhos da maioria que deseja viajar. A cidade-luz tem feito
brilhar a imaginação daqueles ligados às artes em todos os níveis, nativos ou
não. Um clima de encantamento envolve tanto habitantes quanto visitantes. Seus
cafés, cabarés, teatros, museus, cemitério, guardam a energia daqueles que a
fizeram desejada por amantes, poetas, cineastas. Por possuir luz própria,
sobreviveu a muitos infortúnios. Falar sobre Paris é escrever um livro com
início e sem fim.
Um lugar
onde dias e noites oferecem um passeio pelo imaginário. As imagens difundidas
pelos incontáveis filmes que esquadrinharam as ruas irregulares de seus 20 arrondissements - o nome sugere a forma -,
fizeram Paris íntima até dos que nunca lá estiveram. Uma das melhores maneiras
de se conhecer Paris é perder-se e se deixar achar por uma praça, um caminho de
castanheiras, um museu, jardins bucólicos, ruelas com casas antigas e janelas
floridas, boulangeries com a
inigualável pâtisserie francesa.
As
Catacumbas, Arena de Lutèce,
catedrais, igrejas, palácios, pontes sobre o Sena, são dignos não só de
contemplação, mas de um mergulho na Belle
Époque, - cantada em prosa e verso - quando charretes inundavam o Bois de Boulogne, deixando ao vento echarpes
e plumas das damas nas tardes de primavera e verão. Tudo era festa e beleza
nesse curto período – cerca de 40 anos -, onde surgiram invenções como a
lâmpada, o cinema, o automóvel, o avião, entre outras, como prêmio a uma paz
que o homem não tem sabido cultivar.
A Belle Époque precedeu a primeira Guerra
Mundial.
A
capacidade do ser humano em superar más experiências, - sem, no entanto,
aprender com elas -, tem feito com que se repitam, e surpreendam da mesma forma
que as anteriores.
Após a
Primeira Guerra Mundial, uma mudança no comportamento feminino alterou de forma
significativa a vida da cidade. A mulher, mais liberada pelos efeitos nefastos
da guerra, que deixou viúvas e mães uma infinidade de mulheres muito jovens sem
sustento. Essa mulher foi lançada ao mercado de trabalho e à busca de
satisfação pessoal a fim de, não só sobreviver, mas também de superar o trauma
pelas perdas sofridas.
Após a
Segunda Guerra, o glamour ressurgia. À época, eternizou-se o vestidinho godê,
de cintura apertada e grande decote em bleu-blanc-rouge
– o imortal azul, branco e vermelho da bandeira francesa, proibido durante
a Segunda Guerra, onde cerca de 92 ateliers permaneceram abertos em Paris, como
símbolo da irreverência do encanto francês à impermeabilidade da opressão
alemã.
Em 1995,
um atentado com bomba no metrô parisiense, entre as estações de Châtelet e
Saint Michel, na Rive Gauche, deixou quatro mortos. A insegurança que se
seguiu, alterou a vida da cidade-luz. O medo foi sendo absorvido pelo
cotidiano. Passou.
Paris se
recuperou e vai se recuperar mais uma vez. O sonho continua no ar. As belas imagens,
mais uma vez, sobrepor-se-ão às más.
Se, é conhecer Paris e depois morrer, melhor
que não seja lá.