domingo, 20 de dezembro de 2015

SONHE

Imagem do Google
  “Nós temos sonhos; não é talvez toda a vida um sonho? Mais precisamente: existe um critério seguro para distinguir sonho e realidade, fantasmas e objetos reais?”                .
                                                                                         Schopenhauer                              .
                                                                                         



  S. Freire
 Embora acordado, com o que não se sustenta nem mesmo nos contos de fadas. Em ver no espelho uma imagem que te agrade, mesmo que não reflita a realidade.  Em ver só beleza num dia de chuva. Em conviver com o quê e quem te faz feliz. E, transforme em sonho mau a realidade, por vezes tão absurdamente chocante, que anestesia os sentidos para a sua aceitação.

 A vida, por não ser programada, é incoerente. A fantasia, não. Um dia de chuva pode remeter a momentos inesquecíveis guardados no baú da memória. Um dia frio pode ser o melhor amigo para compartilhar uma xícara de algo quente, assistindo a um belo filme.

Torna-te uma ótima companhia para ti mesmo. Faça concessões.  Ninguém é perfeito, nem tu. Deixa o passado aonde estiver, ele não vai mudar. Não vás ao futuro, não és adivinho. Sobretudo não permitas que o presente passe sem que estejas lá. Não sejas tão severo contigo. Lembra que há coisas que para uns não têm valor e para outros, são preciosas. Pessoas também.

Todo conto de fadas termina em “E foram felizes para sempre”. O “Sempre” nunca é mostrado. Quando existe, é na imaginação de quem lê. Solta a tua. Constrói um mundo feliz. Ele te ajudará a suportar o que há de mau neste.

 Flaubert, em Madame Bovary, descreve “... era um sentimento puro que não trazia embaraços ao andamento da vida, cultivado por ser raro e sua perda traria mais sofrimento, do que sua realização, felicidade”. Esta descrição de um sentimento é um mergulho na fantasia. Deixa claro que a felicidade pode estar na abstração de uma realidade duvidosa.

Afinal, se realmente não houver uma fronteira entre sonho e realidade, podemos escolher de que lado ficar. Se a escolha for para o sonho, mesmo que configure insanidade para os padrões estabelecidos, como chamar a opção de continuar vivendo no lado chamado “realidade”? 

sábado, 19 de dezembro de 2015

LEMBRANÇAS

“Reminiscências fazem alguém sentir-se deliciosamente maduro e triste.”
                                                Carlos Drummond de Andrade                                                                                                                                                               

Imagem do Google
Sandra Freire
Quando se organiza um armário, um quarto ou a vida, coisas ficam e coisas vão. A seleção se dá na medida da necessidade de cada um. Existe um tempo de validade para tudo na vida, até um tempo de vida. O que não pode mais ser restaurado, o que traz más lembranças, deve ir. O que ainda puder contribuir para iluminar a penumbra da desesperança deve ser colocado em lugar de destaque, como uma janela aberta para um mar azul.

Organizar lembranças como se fosse um arquivo. Jogar fora tudo que for ruim. Dar novas cores ao que já está desbotado. Colocá-las na ordem de importância para que possam ser revistas de acordo com o momento vivido. E, por que não, inserir belos momentos desejados e não vividos?

Segundo Leonard Mlodinow em seu livro “Subliminar”, coleciona-se ao longo da vida memórias criadas. As más devem ser descartadas. As boas, vão para o arquivo. Não há porque cobrar autenticidade de algo bom e aceitar sem restrições, algo ruim.

As lembranças tendem a sair de ordem quando a solidão aparece. Para suportá-la, só uma que faça companhia. O perigo é ela trazer junto a saudade. Aí, é estar com alguém e ter ninguém. Solidão acompanhada é a pior forma de vazio que se pode experimentar.

É preciso saber lidar com as lembranças. As felizes – por estarem já perdidas -, doem. As tristes despertam nostalgia. As más, certo alívio por ser uma dor já vivida - algo como uma dívida já paga.

O tempo é elástico. Há momentos em que algumas lembranças são tão nítidas, que se tornam presentes. O tato é o principal sentido aguçado para isso. Ele sozinho imprime realidade à cena. As imagens se unem em torno desse momento. É o tempo que deixa de existir.

Ah... Lembrar e se deixar levar. Ver, com os olhos da alma.
 “Longe é um lugar que não existe”.
                                        Richard Bach